16/10/2015

Professora sim, "tia" não!

"Queria muito que Paulo Freire estivesse vivo, queria muito conversar com ele sobre seu livro Professora sim, tia não (cartas a quem ousa ensinar), gostaria de mostrá-lo a realidade atual, onde crianças pedem 'Tia, posso te chamar de mãe?'. Bem, se outrora ele afirmava que chamar professora de tia era uma armadilha ideológica, chamar professora de mãe é o que?"

Fernanda Pinheiro Lopes
Pedagoga, Psicopedagoga, Professora da Prefeitura do Rio de Janeiro, desde 2008 trabalhando com Educação Infantil e Alfabetização.

Muito questiona-se o uso da palavra 'tia' no vocabulário dos nossos alunos. Então, surge a seguinte dúvida, em relação a esse assunto: é ou não pedagógico a utilização da palavra "tia", nas escolas?

O autor, Paulo Freire, em seu livro, Professora sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar, abre a questão analisando que do ponto de vista educacional, ensinar é uma tarefa que envolve trabalho e especificidade no seu cumprimento. Ao passo que ser tia é viver uma relação de parentesco, portanto, nunca poderia ser uma profissão.

"O fato de ensinar implica educar e vice-versa. Para que a educação se faça, é necessária a 'paixão do conhecer', que nos envolve, como diz o autor, numa busca prazerosa, mas não obstante, nada fácil. Paulo Freire, com essas afirmações, não teve a intenção de desvalorizar a tia, mas intencionalmente valorizar a professora, demonstrando o que lhe é fundamental: sua responsabilidade profissional, que faz parte da exigência política de sua formação de educadora."


Para Freire, "refletindo a respeito, compreende-se que o termo 'tias' carrega uma ideologia de 'boas moças', que não brigam, não resistem, não se rebelam, não fazem greve."


"Freire chama a atenção para o fato de que as 'professoras' são também 'aprendizes', porque, enquanto se ensina, também se aprende, e que elas devem se definir sempre como professoras, deixando o cômodo papel de tia, passando a assumirem-se como verdadeiras profissionais da educação."


Se por um lado, encontramos educadores que acreditam que "ensinar é uma tarefa, que envolve trabalho e especificidade no seu cumprimento, ao passo que ser tia é viver uma relação de parentesco, portanto, nunca poderia ser uma profissão", do outro lado nos deparamos com educadores, que questionam se o problema está realmente em serem chamados de tia ou não, nas escolas. 

De acordo, com Fernanda Pinheiro Lopes a mesma é chamada de tia, desde os seus 14 anos. "(...) poderia até chamá-los de sobrinhos, seria mais suave do que chamá-los de alunos porque, para quem não sabe, aluno é igual a sem luz. Formada pelo prefixo a-, que significa negação, e pelo elemento lun-, adulteração de lumen, luminis, do latim, que significa luz"... E, por significar "ausência de luz", a palavra é totalmente pejorativa, depreciativa, ofensiva e antipedagógica. – Fonte: FARIA, Ernesto. Dicionário Escolar Latino-Português. MEC, 1962. Prosseguindo. Bem, não importa qual a origem etimológica, não somos gregos e tampouco temos aulas de latim, o que importa, ao meu ver, é a significação dada atualmente e aluno é igual a estudante, assim como tia é igual a professora."

Afinal, o que seria pedagogicamente incorreto? O profissional da educação ser chamado de tia carinhosamente pela criança, ou do educador chamá-lo de aluno, que é o mesmo que sem luz, conscientemente?

Se tais condutas são pedagogicamente corretas ou não, caberá a cada instituição de ensino se posicionar a esse respeito. Em todo caso, seja qual for o sistema educacional vigente, acreditamos que o ideal é que o profissional do ensino seja íntegro, assumindo seu verdadeiro papel e se posicionando política e eticamente na sua função de ensinar e educar.

O Centro Educacional Inovar Jardim dos Moranguinhos acredita na responsabilidade e na formação profissional dos seus educadores, e o fato de serem "titulados" de tia ou não, de maneira alguma anulará o seu cumprimento de educador.




Referência:
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar. São Paulo, Editora olha D´água. 1997.
http://pinheirolopesfernanda.blogspot.com.br/2010/10/tia-sim-professora-tambem-cartas-quem.html